CÉREBRO E CORAÇÃO REFLEXOS

 (Kílvio Dias Maciel)

 

Eu sou um menino que contava histórias de crianças do tamanho de outrora

Eu sou um velho que brinca com os olhos de homens e mulheres do meu passado

Eu sou a mistura de tudo isso e isso é aqui e ontem, é antes e presente

Eu sou o futuro dessa mistura, que se confunde comigo e me faz assim mesmo

 

Eu sou a música que reverbera um som de quarto e sala

Eu sou os dramas e expiações de Raskólnikov e de sua senhoria

Eu sou o inseto metamorfoseado da mente de um cara em Praga

Eu sou o filho e os delírios náufragos de carta-desabafo para pai

 

Eu sou os amores mortos em lugares italianos e nas praias de um litoral baiano

Eu sou as letras nas partituras de Bossa Nova e Tropicália

Eu sou fã, efêmero... um elo na Baía de Guanabara... posso ser até uma arara

Eu sou a distensão e a diferença de Bandeirantes e Pioneiros, no discurso de Vianna Moog

 

Eu sou o segundo capítulo dos sertões euclidianos

Eu sou o pensamento na cama quando penso se você me ama

Eu sou as mineirices miltonianas de quaisquer clubes de esquina

Eu sou as correrias de rua e as fugas dos impropérios de ambulantes

 

Eu sou, num quarto de Copacabana, os cálculos de um homem que calculava

Eu sou, na Bulhões de Carvalho, o olhar tristonho do terceiro andar

Eu sou, nos corredores do Edifício Heros, um vagar com leite e fubá

Eu sou, na subida de serras, finais de semana entre Quitandinha e Caledônia

 

Eu sou na memória do que fui, vi, ouvi, senti, li... a existência do possível

Como se fosse possível definir o ser que há em mim

Como se fosse possível desmesurar-me da inquebrantável leveza do ser

Ser montanha, ser chão, ser alvo e seta... ser algo a se ver passar





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