DIAS VÃOS

 (Kílvio Dias Maciel) 

 

Uns dias mergulho no asfalto 

Noutros, nas terras do meu chão 

Uns dias quedo em qualquer canto 

Noutros, me embrenho numa solidão 

 

Uns dias procuro um altar 

Noutros, nem quero saber se sãos 

Uns dias me firo por qualquer amar 

Noutros, nem sei se podem ser pagãos 

 

Dias vãos! 

Dias são outras misturas de outros dias 

Dias vãos! 

Dias são outros lugares de outras harmonias 

 

Uns dias me disfarço de fumaça 

Noutros, nem sequer eu fumo 

Uns dias me traio na treliça 

Noutros, nem a luz perpassa o meu rumo 

 

Uns dias sei que sou poeta 

Noutros, rastejo em pedras duras 

Uns dias só um livro me aquieta 

Noutros, me perco na brancura de outras dunas 

 

Dias vãos! 

Dias são outras verdades que flutuam 

Dias vãos! 

Dias são outras mentiras que naufragam 

 

Uns dias me desnudo em alegria 

Noutros, nem sequer me visto 

Uns dias sinto a glote fechar em displasia 

Noutros, nem sequer existo 

 

Uns dias me queimo em febre 

Noutros, ardo na frieza de uma lua 

Uns dias piso a arquitetura de um casebre 

Noutros, me amanso na mulher macia e nua 

 

Dias vãos! 

Dias são outras memórias de amores 

Dias vãos! 

Dias são outros sentidos de quaisquer olores 

 

Se a luz virar, enfim, um dia escuridão 

O que me importam os dias e as ilusões! 

Se o breu da noite atingir o sol da minha compaixão 

O que me importam os pecados e as emoções! 

 

Dias vãos! 

Dias são outros remédios para os meus males 

Dias vãos! 

Dias são outros venenos para os meus vales 

 

Melhor é não ter aflição! 

Melhor é não ter ilusão! 

Melhor é não ter o meu coração! 

 

Não creio em deuses e poetas 

Fico aqui sem nenhuma solução 

Perguntas sem repostas 

E tantas são! 




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