SONETO DO PASSADO

 (Kílvio Dias Maciel)

 

Já conheço bem o teu passado, tuas pilhérias,

minhas férias, tua ausência em beco tão errado

Recolho o guardanapo manuscrito, rabiscado,

um soneto sujo do passado, tempo que não era bom!

beijo marcado com os lábios de batom...

 

Já conheço bem os teus limites, teus amores,

minhas dores, tuas culpas, olhos sem palpites

Vou tocado pelo mesmo vento do passado, ora lançado,

se esgueirando em velhas frestas, amargurado sem razão!

beijo molhado com as águas do meu coração...

 

Já nem sei mais o que fazer, se me recolho, viro aço,

me despedaço ou se brinco de ser com o que passo

Arrebento as fileiras do que estava escrito, não risco,

bem maldigo a fumaça do cigarro, reviro o alvoroço,

na esquina, um tropeço, não escarro nem meço o passo

 

Vou por entre as flores do caminho, luar com cheiro de espinho,

tuas porteiras, chave no meio do mato, cadeado, ronco de carro na areia

Arremesso o sonho mais vidrado, piso lento, arrebato, sou nem tato

vou pra regressar, quedo antes do que havia, enxergo pra não cegar

no vilipêndio, na textura, no poema, na voz que diz o soneto a rememorar!




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